terça-feira, 15 de março de 2011

O jovem jornalista Eduardo Lyra lançará seu primeiro livro em Poá


Eduardo Lyra precisou superar a pobreza e a desconfiança para realizar um sonho de seu pai: ser jornalista. Hoje, aos 23 anos, é considerado um repórter revelação e lançará no próximo mês o seu primeiro livro

Veja matéria escrita por Viviam Turcato a qual foi veiculada no Jornal Diário do Alto Tietê no dia 13 de Março de 2011.

O jornalista Eduardo Lyra, de 23 anos, lançará seu primeiro livro "Dialogando com Lideranças" no próximo dia 9 de abril, às 21 horas, no Centro Cultural Taiguara, em Poá. A obra que nasceu graças ao trabalho de conclusão de curso na Universidade Mogi das Cruzes (UMC) conta com 246 páginas de entrevistas com 23 personalidades brasileiras, como o ex-presidente e senador Fernando Collor de Melo, a ex-senadora Marina Silva e o escritor Fernando Morais.

Para chegar até os personagens de seu livro, Lyra recorreu a uma de suas características mais marcantes: a persistência. O jovem luta contra o preconceito e desigualdade social desde pequeno. Nascido em Guarulhos, morou até os sete anos na favela da Cumbica. Filho único do vendedor Márcio Luiz, de 46 anos, e da dona de casa Maria Gorete Brito Lyra, 39, escolheu a profissão para realizar um sonho do pai, que sempre desejou ser jornalista. Porém, no primeiro dia de aula foi aconselhado por um professor a mudar de profissão porque, segundo ele, seu texto era "muito ruim". Hoje, eleito repórter revelação de 2010 pelo Instituto Itaú Cultural, já está produzindo o seu segundo livro (Jovens Falcões) e conta com o projeto para a terceira obra (Fenômenos).

Diário do Alto Tietê: Como surgiu a ideia para fazer este livro?
Eduardo Lyra: Em 2009, para um jornal laboratório da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) fiz uma entrevista com a repórter da Revista Época, Eliane Brum, que é detentora de mais de 40 prêmios de jornalismo. Neste encontro, que durou cerca de uma hora e vinte minutos, ela conseguiu mudar minha vida e provar que o jornalismo é a melhor profissão do mundo. Porque até então eu não era apaixonado de fato pela profissão. Mas ela conseguiu provar que o jornalismo é uma intersecção de mundos, porque é o teu mundo cruzando com o mundo de outro, porque quando alguém te conta uma história sem sair do lugar você faz uma viagem pela história da pessoa. Quando você volta desta viagem, você volta transformado pela experiência dessa pessoa. Depois desta entrevista, tive a certeza que tinha escolhido a profissão certa e que eu deveria passar a minha vida inteira fazendo entrevistas e contando as histórias de vidas das pessoas. Daí eu decidi fazer o livro de entrevistas com lideranças. Recebi muitos nãos, mas, determinado com este objetivo, consegui finalizar este projeto.


DAT: Mas se você não era apaixonado pela profissão, por que a escolha do jornalismo no vestibular?
Lyra: Eu escolhi por influência do meu pai, porque ele sempre quis ser jornalista e não teve a oportunidade de estudar. Ele disse para mim: "Filho, o pai sempre teve o sonho de ser jornalista e eu queria que você pudesse realizá-lo para mim". Segundo, porque sempre achei interessante a história das pessoas. Sempre tive disponibilidade para parar e ouvir e me encantar com as histórias. Essa relação de proximidade me fez entrar na faculdade de jornalismo. Mas eu queria ressaltar uma coisa: no primeiro dia de aula na UMC, eu tive uma grande decepção. Um professor pediu que todos os alunos entregassem um texto para ele. Eu fui o primeiro. O meu tema era sobre os jovens na sociedade. Ele leu e no final da aula disse: "Eduardo, você tem certeza que você quer ser jornalista? Muda de profissão, porque você é muito ruim". Peguei minha malinha, fui embora para casa e disse para minha mãe: "não quero mais ser jornalista, nunca mais vou pisar na faculdade". Minha mãe, que é uma dona de casa, se mostrou mais competente do que um doutor. Ela disse: "filho, seu professor não passa de um burro. Você tem um imenso potencial". E aquelas palavras da minha mãe me fizeram renascer. Mas vou ressaltar uma coisa: passei três anos na faculdade passivo. Porque aquelas palavras do professor fizeram feridas na minha alma. Ele me humilhou. No último ano eu mudei de posicionamento, porque não poderia passar quatro anos da universidade sem deixar um texto histórico relevante. Então decidi fazer este livro que nunca havia sido feito na história da faculdade. Decidi entrevistar pessoas que nenhum aluno sonhou em entrevistar. Porque o jovem é o grande potencial do mundo. Desde que ele acredite nele próprio. Eu acredito que 80% dos jovens brasileiros padecem de uma doença gravíssima: o descrédito. Tem jovem que não acredita que pode fazer algo de relevância. Quero provar isso com este livro: que o jovem tem potencial. Porque ele foi escrito por um jovem pobre, que morou em favela, que veio da periferia, que estudou a vida inteira em escolas com as carteiras quebradas, onde os professores não davam a mínima. Eles olhavam para mim e não me viam como um futuro escritor. Eles olhavam para mim e viam um futuro bandido, um futuro assaltante de banco.


DAT: Como você conseguiu entrevistar estas personalidades?
Lyra: Todas as entrevistas foram pedidas através de e-mail. No início deste projeto eu mandava o e-mail e as pessoas me respondiam que não poderiam me conceder a entrevista por falta de tempo. Eu pensei que eu tinha que fazer com que este projeto ganhasse respeito a nível nacional. Então eu acordei um dia e disse para a minha mãe que iria entrevistar os senadores Fernando Collor de Melo e Marina Silva. Então eu decidi ir a Brasília. Conversei com um vereador de Poá e fiz um acordo para ele pagar a viagem que eu pagaria com trabalho. Graças à ajuda de uma colega de faculdade que tem família em Brasília, consegui local para ficar. Cheguei a Brasília e fui direto para o gabinete da Marina. Coloquei o meu melhor terno, uma gravata boa e uma pasta para impactar. Fui recebido pelos assessores dela e me avisaram que seria impossível. Mas eu não desisti. Sentei no sofá do gabinete dela e quando a Marina apareceu dei um pulo e disse: "me chamo Eduardo, tenho 22 anos, sou estudante de São Paulo e vim aqui para lhe entrevistar". Ela disse: "gostei de você". Ela me atendeu por trinta minutos e consegui o que queria. Depois entrevistei o Collor e as entrevistas foram acontecendo.

DAT: Qual foi a entrevista mais marcante para você?
Lyra: De todas elas eu tirei experiência para a minha vida. Mas eu sempre li as obras do escritor Fernando Morais e eu passei um ano e dois meses tentando entrevistá-lo. Na primeira vez que eu liguei ele estava em Miami colhendo informações para o seu livro "Os últimos soldados da Guerra Fria" (Companhia das Letras). Ele pediu para eu ligar em janeiro. Liguei. Ele pediu para eu ligar em fevereiro. Liguei em março. E assim foi até novembro. Quando liguei em novembro ele me disse para eu retornar em dezembro, aí eu disse: "Fernando Morais, ou você me atende ou eu estouro a porta da sua casa e te entrevisto a força". Liguei no outro dia e marcamos a entrevista na casa dele, em Higienópolis. Quando eu saí do elevador e o vi um dos maiores jornalistas do Brasil com a mão estendida para me receber, que já entrevistou diversos presidentes, que vendeu milhões de livros, eu pensei: fui mais longe do que eu imaginava. Ele ficou comigo por três horas. Ele passou para mim a visão do jornalismo, do mundo.

DAT: O que você diria hoje se encontrasse aquele professor que disse para você mudar de profissão?
Lyra: Eu falaria para ele que ele mudou minha vida. Porque hoje eu consigo depreender o valor das decepções na vida de uma pessoa. Se eu não tivesse sofrido esta decepção, eu não teria me impulsionado a escrever um livro.

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